DISTRAÇÕES_i_IMAGENS

...um olhar sobre... as minhas IMAGENS preferidas e algumas DISTRAÇÕES ...

"A fotografia é a poesia da imobilidade: é através da fotografia que os instantes deixam-se ver tal como são." (Peter Urmenyi)

"A dignidade pessoal e a honra não podem ser protegidas por outros. Devem ser zeladas pelo indivíduo em particular" (Mahatma Gandhi)

"Para viajar, basta existir. " ( Fernando Pessoa )

quinta-feira, janeiro 27, 2011

... Cisne (Camille Saint-Saëns) ... (um cheirinho)

... No seguimento do anterior... para quem quiser ouvir um bocadinho...

(Retirado do YOUTUBE)

... "Bach na Casa de Correcção" ... partilha de uma bela história ...

... Continuando na senda das DISTRAÇÕES ...
... Hoje, recebi esta bela história, e não resisti a partilhar com quem visita este espaço...
... Aqui fica ... Não alterei uma vírgula ou espaço ...era o que faltava ....


Bach, na casa de correcção

Uma caixa grande de violoncelo assemelha-se bastante a um caixão, pelo que, à medida que eu transportava a minha pelo Central Juvenile Hall (Centro de Detenção Juvenil) de Los Angeles, ia atraindo muitas atenções. Dirigia-me à capela após ter sido convencido a tocar para uma audiência de jovens reclusos pela Irmã Janet Harris, que coordenava as actividades de voluntariado. O projecto que mais a entusiasmava era um programa de escrita criativa que ela própria ajudara a criar e no qual eu começara recentemente a colaborar como professor. Os meus alunos eram IARs, ou «infractores de alto risco», que estavam acusados de homicídio ou assalto à mão armada e aguardavam ali o respectivo julgamento. De alguma forma misteriosa, a Irmã Janet soubera que eu tocava violoncelo nos meus tempos livres e pediu-me para dar ali um pequeno concerto. Tentei recusar, recordando-me ainda da última vez que tocara para um grupo de miúdos: fora numa festa de anos e o aniversariante pontapeara a ponta do meu instrumento, declarando que o violoncelo era estúpido e que só o acordeão conseguia ser mais aborrecido.
— Irmã Janet — disse eu — já alguma vez foi a uma festa de alunos de uma escola em que a música clássica fizesse parte do programa? Pode ser uma péssima ideia...
— Ah — respondeu ela, sorridente — mas isso seria numa escola. Os nossos rapazes jamais se comportariam assim.
Após passar por um labirinto de vedações de arame, cheguei a um edifício com uma cruz no telhado. Sobrepondo a minha voz ao ruído da música que saía de um amplificador lá de dentro, apresentei-me a alguém que trazia a identificação ao peito e um walkie-talkie. Folheando um caderno com o programa, o homem disse-me então:
— O próximo é já você!
Levou-me depois para o gabinete do capelão, onde pude retirar o meu violoncelo da caixa e fazer o aquecimento para a minha actuação.
— Quando o chamarmos, vá por aquela porta, que lhe dará acesso directo ao palco — explicou-me o homem.
Quando ele saiu, decidi abrir só uma nesga da porta e espreitar para a sala. Tinha curiosidade de ver qual o tipo de actuação que antecedia a minha. E vi que era um grupo de hip-hop, com a música muito alta a sair dos amplificadores, ao som da qual a audiência de prisioneiros se abanava e batia as mãos. Um dos elementos da banda era uma jovem muito atraente, com calças de ganga justas e uma camisa que lhe deixava o umbigo à mostra. Embora ela não cantasse e a forma como usava a pandeireta denotasse pouco treino, um simples olhar sobre aquele público só de homens confirmou-me que a estrela daquela actuação era ela. Fechei a porta e afundei-me na cadeira do capelão. «Incomodo?», perguntou uma voz atrás de mim. Era a Irmã Janet.
— Acho que não foi boa ideia pôr-me a tocar — disse-lhe. — Porque não?
— Ouça o que está a acontecer ali dentro! Estão a bater o pé e a dançar que nem loucos, e isso só por verem a rapariga de biquini, já para não falar da música. Consegue imaginar o balde de água fria que vão ter quando eu entrar ali dentro?
— Têm lá uma rapariga de biquini? — perguntou a Irma Janet.
— Não está em biquini mas quase. Isto não vai resultar.
— Tenha um pouco de fé! — instou ela.
Às duas horas em ponto, o som dos amplificadores foi desligado sem cerimónias e o grupo saiu do palco. Ao contrário do que acontece noutros concertos, em que as pessoas aplaudem e gritam bis no final de uma actuação, o público ali teve de permanecer calmo e sentado. Mas ninguém estava com um ar satisfeito. Um homem com uma peruca mal colocada percorreu o corredor desde lá de trás por entre os bancos, virou-se para o público e leu em voz alta:
— E agora o Sr. Salzman, que vai tocar violoncelo.
Depois, voltou por onde viera e saiu da capela. O silêncio que se instalou na sala enervou-me de tal maneira que não consegui ver a plataforma mais elevada do palco e caminhei direito a ela e tropecei, entrando em cena a cambalear para não cair. Por um triz consegui evitar a queda, utilizando o violoncelo como se fosse uma vara de esqui, ou seja, apoiando firmemente a extremidade do braço do instrumento no chão e saltando para o lado do público. Não fora minha intenção fazer uma entrada à Buster Keaton, mas foi isso que aconteceu, e os reclusos acolheram-me com uma sonora gargalhada e uma salva de palmas. Demorei um pouco a começar para lhes explicar que quase tudo aquilo que viam no violoncelo (à excepção das cordas de metal e do pino da extremidade do braço) já tinha feito parte de coisas com vida: a parte superior fora retirada de um abeto, a parte posterior, de um carvalho silvestre (com os seus veios escuros semelhantes à pele de um tigre), o descanso para os dedos, de um ébano, o arco, de um pau de quire com pêlos de cauda de um cavalo, e as peças de marfim, de um dente de um mamute conservado na tundra congelada durante dezenas de milhares de anos. — Quando tocamos este instrumento — concluí — trazemos todas essas peças novamente à vida. Entretanto, esgotei os factos que pouca gente sabe sobre os violoncelos, e disse aos rapazes que a primeira peça que iria tocar para eles, O Cisne, de Camille Saint-Saëns, me fazia sempre pensar na minha mãe. Comecei então a tocar. Com aquele tecto elevado, paredes nuas e chão duro, a capela fazia o som ressoar como que numa banheira gigantesca. O violoncelo soava divinamente naquela sala, o que me entusiasmou, até que a dada altura ouvi uma espécie de murmúrio entre o público, o que me trouxe de volta para a realidade. Os miúdos estavam aborrecidos, tal como eu previra. O som aumentou de intensidade. Não era bem o som de inquietação, mas também não eram sussurros. Olhei então para o público e vi uma sala inteira de rapazes com as lágrimas a correrem-lhes dos olhos. Aquilo que eu ouvira não fora mais do que o som de fungar e assoar – que é música para os ouvidos de qualquer músico! Toquei o resto da peça como nunca até então tocara na minha vida, e quando terminei, a ovação foi ensurdecedora. Era o sonho de um violoncelista medíocre a tornar-se realidade! Para a minha peça seguinte, escolhi uma sarabanda de uma das suites de Bach, pela qual os rapazes me recompensaram com mais aplausos. Nessa altura, alguém gritou:
— Toca a das mães outra vez!
E a ideia foi imediatamente aclamada por todos. Compreendi então que fora a evocação da figura materna que os comovera daquela maneira. Toquei novamente O Cisne, um pouco mais de Bach, e O Cisne uma terceira vez. Quando o homem da peruca assinalou o fim do tempo para a minha actuação, os jovens assobiaram-no. E depois deram-me uma ovação final!


(Mark Salzman)

terça-feira, janeiro 25, 2011

... " o carteiro toca sempre duas vezes " ...

(... uma pequena introdução, continuamos na área das DISTRAÇÕES ...)

"O carteiro toca sempre duas vezes "...
Não é uma frase, é um título... de um filme realizado por Bob Rafelson em 1981, onde se contava, entre outros com a participação de Jack Nicholson e Jessica Lange...
Certamente muitos outros filmes foram feitos ao longo dos tempos, tendo como tema ou, personagem, o carteiro...


Outro, talvez um dos melhores filmes de sempre, na minha opinião, "O Carteiro de Pablo Neruda".
Embora seja um excelente tema, falar deste filme, o Carteiro de Pablo Neruda, não é de forma nenhuma o tema que para aqui me transportou hoje.
É que, enquanto atravessava a Ponte Vasco da Gama em direcção aos meus afazeres diários, mensais, e mais o que queiram, ouvi na radiola do meu meio de transporte que era o Dia do Carteiro, dia 25 de Janeiro - Dia do Carteiro.
Achei "piada", dado que com tantos dias para comemorar, ainda estou para saber se também há o Dia da Não Comemoração ou Efeméride, bem como não fazia a mais pálida ideia que havia um Dia do Carteiro.
Carteiro ... Ainda não há muito tempo, e penso que mesmo ainda hoje, em muitos locais deste nosso Portugal, é a pessoa mais aguardada em determinados dias do mês...
É aquele, que lá mais para o fim do mês transporta o cheque com a parca reforma do Sr. Joaquim e da D. Alzira, que vivem numa aldeia "encerrada" no meio da Peneda Gerês, por exemplo...
É o Carteiro que transporta as notícias da filha, que há uns anos largos, partiu dessa mesma aldeia, em busca de um sonho de uma vida melhor, lá na capital... afinal a D. Alzira, nunca veio à capital... Não tem tempo... a lida do campo não lhe permite tal devaneio.
E como nem ela, nem o Sr. Joaquim sabem ler, é o Carteiro que lhes diz aquilo que a filha escreveu... dá as boas notícias... também sofre com as más...
Mas nem todos os Carteiros são como este que palmilha diariamente as terras da serra.
Mas todos, mesmo todos, caminham, guiam, todos os dias para levar a cada um de nós notícias e comunicações mais ou menos importantes... algumas delas bem as dispensavamos, a conta da luz, a renda da casa, a multa por excesso de velocidade, mas também estas são entregues normalmente no seu destino.
Todos nós temos os nossos inimigos ou amigos de referência...
Também os Carteiros ...
Para estes, o cão que é o melhor amigo do Homem, diga-se em abono da verdade, não o é em relação ao Carteiro... Que apetitosas deverão ser, em algumas vilas e aldeias, as rodas das bicicletas e motorizadas, onde os nossos amigos carteiros se fazem muitas vezes transportar.
Pois, o cão nem sempre é o melhor amigo, pelo menos o Carteiro que o diga...
Embora muito mais gente, tanto moradores, como a exercer esta profissão, hoje em dia, como em tantas outras profissões, também esta perdeu alguns traços que nos deixam com alguma nostalgia. Muito mais informatizado, o serviço de entrega de correspondência perdeu algumas características que lhe conferiam aspectos de presença e amizade entre o Carteiro e o receptor das novidades.
No entanto, ainda hoje, em muitos locais deste país, existe uma quase cumplicidade entre o Carteiro e o comum dos mortais...
Pois é, não é esta nenhuma referência com intenção de homenagem... Com disse no início, nem sabia que havia o Dia do Carteiro. Carteiro, importantíssimo durante os anos da guerra colonial, onde muitas Mães e Esposas, aguardavam com uma ansiedade imensa, notícias dos seus, que tinham partido em defesa do Império e da Honra... Talvez, digo talvez, embora tenha a completa certeza que, em muitos corações, quando chegava o Carteiro, corressem rios de ansiedade que por infelicidade se transformaram também, muitas vezes, em dor e pranto... ou em felicidade e alegria...
Era o Carteiro, como ainda hoje é, quem levava as boas e as más...
Hoje, com as novas tecnologias, muitas vezes já não necessitamos do Carteiro... Mas uma coisa é certa, recebemos as novidades de uma forma completamente impessoal e descaracterizada, independentemente da origem dessa mesma notícia...
Ainda hoje temos Carteiros que percorrem as estradas e vielas deste terreno com apenas e só um objectivo... dar a notícia, levar ao destino algo, que alguém sem pedir, pediu que entregassem...
E esta, sim, não é impessoal... É pelo contrário, entregue com rosto ... o Rosto do Carteiro... e eu pessoalmente prefiro... mas nem sempre é possível ... mas realmente é diferente, receber as novidades pela mão de alguém com rosto, com alma, com Vida .... o CARTEIRO....que nem sempre toca duas vezes... por vezes nem toca, deixa logo tudo na caixa do correio...
Pois é, hoje, dia 25 de Janeiro, é o Dia do Carteiro ...

(Imagens retiradas da Internet)

segunda-feira, janeiro 24, 2011

... estamos em que sítio deste Planeta ????

(Continuando apenas nas Distrações)... Imagens é algo para mais tarde ....

Ontem foi dia 23 de Janeiro de 2011...
Eu sei, todos deram conta ... Foi o dia em que neste país, se realizaram as eleições para a Presidência da República. Daí, este ar mais formal, colocando aqui a Bandeira de Portugal.


Fui ouvindo, confesso que quase com uma indiferença total, a campanha para as Eleições Presidenciais de 2011. Não é por nada, mas como muitos outros, também eu, que nunca tive grande apetência para "politiquices", estas então não me entusiasmaram mesmo nada.
Mas registei, que mais uma vez, uma das grandes preocupações dos "políticos" era a possibilidade de ocorrer uma grande abstenção.
Ontem, os números de votantes a meio do dia, era realmente alarmante, digo eu. Tinham votado cerca de 13%, apenas e só. Haviam mesas de voto, onde ainda não tinha aparecido um eleitor.
Como normalmente arranjamos logo desculpas paralelas aos assuntos importantes e reais, a culpa ou era... do frio, .... ou do frio, .... ou ainda, que os portugueses estavam habituados a votar mais tarde e desta vez estava muito frio. Boa !!!
E eu estava incluído nesses portugueses, ainda não tinha ido cumprir o meu Dever de Cidadão... Não porque me tivesse levantado tarde, mas por outras razões que agora não vêm ao caso...
Bem, vamos lá então votar... Como tenho o CC ( Cartão do Cidadão ), e como não sei de cor o meu Número de Eleitor, dirigi-me à Junta de Freguesia da minha área de residência, e tentei-me informar. Quando lá cheguei, havia para aí umas dez pessoas à minha frente. Aguardei, e não foi preciso muito, para "tentar digerir" a resposta que ia ouvindo:
- O sistema está completamente bloqueado ! Não é possível dar a informação sobre o número do eleitor...Olhe, não pode votar, o que é que eu hei-de fazer... ( dizia o funcionário da junta )...
Então, eu como outros que ali estavam, porque o sistema estava bloqueado, não podiamos saber o nosso número de eleitor ?
Então nós, apenas porque temos o Cartão do Cidadão, não podiamos votar ?
Como sou espírito de contradição, agora (naquele momento), até quero votar... Quero exercer o meu Dever e o meu Direito, ponto final.
Agora se o sistema está bloqueado, se não se consegue saber através do telemóvel, pela Internet também não é possível,... se alguém tem de fazer o pino, cantar ópera, pintar-se às cores ou outra coisa qualquer, para mim é "tinto". Não me importa e nem quero saber... é que eu tenho mau feitio, já me disseram...


E assim, não saí nem voltei para casa, sem exercer o meu Direito e cumprir o meu Dever... Por artes mágicas, por alguma arte de ilusionismo ou se calhar por mero acaso, o "SISTEMA DESBLOQUEOU"... demorou mais de meia-hora, estava um frio do "caraças" (desculpem o calão)... mas o sistema desbloqueou...
Terminaram os bloqueios...
E atenção, isto nada tem a ver com os funcionários da Junta de Freguesia ou com os "voluntários" que estavam presentes nas mesas de voto... Isto passou-se no país inteiro, mas mesmo "inteirinho"...
Bem, eu e outros, finalmente lá fomos votar...
Agora expliquem-me uma coisa ?
Como é que podemos de uma forma leviana, acusar que os "portugueses", de não irem votar não cumprirem, mais uma vez com o seu Dever?
Alguém sabe quantos eleitores foram impedidos de votar?
Como é que se fazem estas contas?
Quando temos uma participação com muito menos de 50% de eleitores, (a abstenção foi de 53,57 %), como é que podemos pensar em pedir e incentivar a participação dos portugueses na "vida" e nas decisões do seu país?
Será que o valor não seria muito mais baixo? Se calhar não, mas lá está, se calhar ......
E com os "se calhares...." não vamos, mais uma vez a lado nenhum...
Há sempre uma desculpa, ou é o frio, ou é o calor... ou estava muito vento, ou é porque estava um excelente dia de praia... ou é porque as "eleições" não são muito importantes (????) ou porque é porque o "povo português" não está "devidamente informado sobre os propósitos ou sobre a política" (esta também é boa)... e desta vez, conseguimos arranjar mais uma desculpa... o SISTEMA BLOQUEOU... acho que já não falta mais nenhuma....
E INCOMPETÊNCIA, FALTA DE SENTIDO DE RESPONSABILIDADE, ou até, INCÚRIA, FALTA DE PROFISSIONALISMO... não serão também "desculpas" ?...
Não teria sido possível, antes mas com tempo, simular este tipo de situação e prepararem o SISTEMA para se evitarem este tipo de ocorrências ? Está-se a lidar com máquinas, informática, onde se podem efectuar testes, ensaios, testar o limite...
É que nós já estamos tão bem vistos por esse Mundo fora e nomeadamente na Europa, e... foi mais um "tiro no pé", e desta vez com bala de canhão...
Pronto, para se resolver o assunto, ouvi hoje, a Comissão Nacional de Eleições vai abrir um inquérito para determinar as razões que levaram a tal situação...
Quer-me parecer a mim, que não vai haver grandes conclusões, e se formos muito mas muito rigorosos, ainda vamos ver que para isso deve vir a ser constituído ou um grupo de trabalho, ou uma comissão de inquérito ou uma comissão e grupo de trabalho qualquer...
Pois, mais uma vez falta de credibilidade que está em causa...
E mais uma vez para a história, fica a fraca participação dos portugueses, como uma elevada taxa de abstenção, muito acima de 50%... para a eleição do Presidente da República que é o Presidente de todos os portugueses...
E pronto, vamos aguardar até às próximas, para nos voltarmos a queixar da falta de participação, da elevada taxa de abstenção, ou até para ouvir alguém dizer que "é normal, dado que os portugueses estão cada vez mais afastados da política... e da participação activa na vida do país...". Pronto, é normal... e contra as "normalidades" nada feito, .... já contra as "anormalidades" se calhar, e lá está o "... se calhar...", aí também nada feito... depois faz-se mais um inquérito ou cria-se mais uma comissão ou grupos de trabalho... e de certeza, não se calhar, arranjam-se mais duas ou três desculpas....
É o país que temos, mas continuo na minha, não sei se é o que merecemos...
(Imagens tiradas da Internet)

sexta-feira, janeiro 21, 2011

... um olhar sobre um "dizedor".... entre muitas outras coisas ...

Porque ainda só me posso dedicar a Distrações...
No dia 21 de Janeiro, mas de 1961, partia deste Reino, um homem do Cinema, do Teatro, Encenador, Declamador....
JOÃO VILLARET
Fica aqui um apontamento, apenas uma lembrança...


Todos conhecem o "FADO FALADO"...
Preferi deixar este menos conhecido, pelo menos para mim...
Um declamador ... Um poema de Fernando Pessoa...

(Tirado da Internet)

terça-feira, janeiro 18, 2011

... Um Homem... Um sonho ... talvez pudesse ter sido assim ...

… Fim de tarde … Uma praia qualquer, num fim de tarde qualquer...

... Estava sentado, pernas estendidas, pés descalços, mãos enterradas na areia, ligeiramente reclinado para trás…
Quem por ali caminhasse, e parasse apenas via um homem sentado, olhando o horizonte.
Nada mais transparecia daquela imagem de fim de tarde, naquela praia.
As ondas iam percorrendo, mais metros de praia, a cada leva de entrada… Dizia-se, tecnicamente falando, que estava-se a atingir a preia-mar.
Eram poucos, os corajosos que ao fim da tarde se aventuravam a enfrentar e brincar nas ondas. Estas, como que com cadência matemática, iam lambendo as areias a cada leva. As pequenas pedras e conchas que ficavam nas areias, reluziam como se de diamantes se tratassem. Parecia um bailado em salão decorado com pedras preciosas.
O Sol, ia-se escondendo ao fundo, para além da linha do horizonte, dando cada vez mais, protagonismo à estrela que era sempre a primeira a surgir no céu daquela praia. Toda a gente lhe chamava estrela, mas na realidade era Vénus, o planeta, que todos os dias ao fim da tarde, início de noite, vinha acordar os passeantes daquela praia…
No horizonte, no céu, desenhavam-se linhas que mais pareciam labaredas de um fogo intenso. Estava agora manchado de cores quentes, laranja e vermelho…
Um miúdo, que por ali brincava, não devia ter mais do que 10 anos, reparou naquele homem ali sentado, sem fazer ou dizer qualquer coisa… Também ele, tinha reparado não só naquele homem, mas na pequena estrela, a tal que afinal não era estrela, que aparecia pouco a pouco no firmamento. Como muitos que por ali passavam, também aquele miúdo reparou no homem sentado.
Com a curiosidade própria de uma criança, estava tentado a ir-se sentar ao lado do senhor da praia… foi o nome que lhe deu, quando a mãe lhe disse, para não incomodar o senhor. Ficou o senhor da praia...
Mas, era mais forte do que ele, e correndo, sentou-se ao lado daquele homem, com um pequeno balde e uma pá nas mãos, brincando na areia… Enquanto brincava, olhava de soslaio para o senhor da praia… Nem um nem outro, durante mais ou menos o tempo de dez idas e vidas das ondas que continuavam o seu bailado sobre as areias da praia, disseram alguma coisa… nem tão pouco sorriram um para o outro… Um brincava com a areia, o outro olhava para além...
O som das ondas, o burburinho da maré, era a companhia daqueles dois homens, sentados na praia…
De repente, uma onda maior veio molhar os pés do pequeno, deitando por terra dois ou três pequenos montes de areia que tinham sido construídos pelo miúdo…
- Puxa, está fria – disse o miúdo sorrindo.
- É melhor ires ter com a mãe! Ela pode estar preocupada!
- Não faz mal, ela sabe que estou aqui ao pé de ti !
- O que é que estamos a fazer? Não sei como se chama esta brincadeira? – perguntou, o miúdo.
Ele nunca tinha brincado assim!
O senhor da praia, sorriu… Não lhe tinha passado pela cabeça este tipo de questão… Seria que também estava a brincar, e não sabia… Nãaaa!!!... Já não tinha idade para este tipo de palermices… Mas decidiu entrar na brincadeira.
Virou-se para o miúdo, pegou-lhe na pequenina mão cheia de areia, e disse-lhe:
- Sabes, esta brincadeira chama-se “Sonhar”. Há muitos anos atrás…
Interrompendo, pergunta-lhe o miúdo:
- Mas tu já foste pequeno como eu ???
Sorrindo, novamente, aquele homem, continuou…
- Sim, até já fui mais pequeno do que tu, e depois cresci. Mas quando eu era jovem, num país distante, tive um sonho. Sonhava com um Mundo melhor, sonhava com as pessoas mesmo que diferentes, vivessem em paz… Nasci há muitos anos, e um dia anunciei ao Mundo que tinha um sonho…
- E agora és velhinho, como o meu avô, não é? – disse o miúdo.
Continuando:
- E eu, agora estava aqui, a olhar para o mar, estava a olhar para o céu, a ouvir a música do mar, e ao mesmo tempo estava a sonhar, voltei a sonhar, estava a imaginar como seria se os sonhos se tornassem realidade. Como seria se aquele sonho se tivesse tornado real...
- E consegues sonhar de dia? Eu só tenho sonhos quando estou a dormir à noite, sabias?
- Mas olha, este sonho é um sonho especial. É um sonho para todos os Homens da Terra! Também é um sonho teu, para ti… - respondeu o senhor da praia.
Ficou pensativo, o miúdo. Que sonho seria? Nem o pai ou a mãe lhe tinham dito nada.
- Também é do meu pai e da minha mãe? – perguntou.
- Sim, é de todos. E todos deveriam sonhar este sonho.
- Como é que sabes que o sonho é para toda a gente? – perguntou novamente o miúdo.
- Como sabes que sonho era? Ainda te lembras do sonho? – continuou a perguntar
As perguntas não paravam…
Por momentos, talvez por minutos, ficaram em silêncio. Apenas ouviam o imenso ruído das ondas, que continuavam a lamber as finas areias daquela praia. O senhor da praia e o miúdo, olhavam os dois o mar, até onde os olhares alcançavam. O Sol ia descendo, palmilhando o seu caminho para outras paragens. Ia paulatinamente dando lugar à luz cintilante das estrelas que se desenhavam no firmamento. As cores até há bem pouco tempo quentes, iam também elas iam escurecendo. O céu ia tomando a cor quase violeta.
Já estava há muito tempo calado, o miúdo.
- E o sonho? Como é que disseste a toda a gente? – perguntou o miúdo.
O senhor do mar, virou-se para o miúdo, e sorrindo, replicou:
- Vou-te mostrar, vais ouvir como é que eu disse. Se não perceberes, dizes-me que eu explico-te o que quer dizer…
Ao mesmo tempo, pegava num pequeno rádio a pilhas, ligou-o e ouviu-se, sobre o burburinho das ondas do mar:



O miúdo ouviu com toda a atenção.
Perguntou, abrindo muito os olhos:
- Afinal, tu tiveste mesmo um sonho ?
O senhor da praia, virou-se para aquele miúdo e com os olhos marejados de lágrimas, respondeu-lhe:
- Não, eu TENHO UM SONHO ! " I HAVE A DREAM ..."
- E como eu, muitos têm ou tiveram este sonho. Só tenho pena de serem poucos.
- E eu, posso também ter este sonho ? - pergunta-lhe o miúdo.
- Sim, deves ter este sonho. - respondeu-lhe.
- Então, quando for grande, vou dizer também que tive este sonho, e se calhar até faço uma música, para ser diferente de ti. Pode ser? Vou dizer á minha mãe e ao meu pai...
Correu alguns metros, voltou-se para ... Mas...
O senhor da praia, tinha desaparecido de repente... O miúdo correu, dirigiu-se à mãe e ao pai, mas não lhes contou nada.
Teria aquele miúdo tido um sonho ?

Aquele miúdo, lembram-se, entretanto cresceu... Tornou-se homem, seguiu o seu caminho. Um dia, em 1971, mais uma vez se recordou daquela tarde numa praia qualquer. Sentou-se ao piano que tinha na sua sala e decidiu compôr. Dos seus dedos, naquele dia nasceu uma das mais belas obras da música, para todos os tempos...
Afinal, tinha prometido fazer uma música... Talvez fosse um sonho... Este tornado real...

Martin Luther King nasceu a 15 Jan. 1929. Se fosse vivo teria agora 82 anos. Como seria o Mundo se tal tivesse sido permitido?
Este homem, sonhou... tinha um sonho...
Teve a coragem de dizer qual era o seu sonho ...
Em 04 Abril de 1968, mataram o Homem, mas não mataram o sonho...Não é nada de novo... Novidade seria sermos capazes de manter vivos estes sonhos... Este discurso foi feito em 28 de Agosto de 1963. " I have a dream..."
Por pura ficção e alguma falta de imaginação, era aquela criança que estava naquele fim de tarde, naquela praia, numa praia qualquer... poderia ser Jonh Lennon...
Digo assim, porque com a sua obra "IMAGINE", considero também Lennon um sonhador...
Também ele tinha um sonho... Este talvez ainda em sonho... Ainda não é real...
  
( Pura ficção )
(Video e imagens retiradas da internet)

quarta-feira, janeiro 12, 2011

... imagens ... um intervalo forçado....

DISTRAÇÕES E IMAGENS
... sou forçado a fazer um intervalo ...
... pelo menos com IMAGENS novas...


... talvez durante algum tempo, não sei quanto...
... apenas DISTRAÇÕES ...
... é que ...
... esta amiga partiu para parte incerta ...
Por agora fiquemos assim...

(Imagem retirada ada Internet)

terça-feira, janeiro 11, 2011

... CLARINET CONSORT ... um concerto

Concerto... de Música Antiga... Já vos tinha dito antes.
Foi no passado
Domingo dia 09 de Janeiro de 2011, pelas 17:00 horas.
Foi um fim de tarde de Domingo diferente, para melhor...
Aqui ficam algumas imagens...
Altar da Igreja da Nossa Senhora da Atalaia.
O concerto foi aqui realizado, neste ambiente, onde a música foi rainha da tarde...
O Agrupamento
CLARINET CONSORT
dava início ao seu concerto. A igreja estava cheia...
O Agostinho agarrado à TIORBA, fazia uma breve introdução ao que iriamos ouvir.
Panorâmica geral da igreja, com o
CLARINET CONSORT
a interpretar a primeira peça.
Interpretando, tocando, mostrando a qualidade musical...
Já agora, não sou suspeito, mas esta miúda é a mais gira do grupo...

Sara, a soprano com o Agrupamento a acompanhar..
Foram realmente momentos diferentes.
A "miúda" do clarinete continua a ser a mais gira do grupo...
Terminava o Agrupamento
CLARINET CONSORT
a sua actuação...
Foi um fim de tarde diferente.
Foi mesmo bom ...
Aconteceu na Atalaia,
Na Igreja da Nossa Senhora da Atalaia.
Quando e onde será o próximo...
 (Fotografias de FAIRES)

segunda-feira, janeiro 10, 2011

... um olhar sobre ... Castelo de Linhares ...

Castelo de Linhares da Beira
Linhares da Beira tem um castelo altaneiro ....

... entrando ...
... para entrar temos de passar por aqui ...
... é quase uma porta para o "mistério"...

... Este castelo altaneiro, em Linhares da Beira, e a sua Torre de Menagem ...

... da Muralha, de um dos lados, até onde a vista alcança...
... ficamos por das torres da muralha ...

 
 
... espaçoso, bem recuperado, o que havia para recuperar...
... em dia solarengo ... o pátio interior ...
(Fotografia de FAIRES)

... CLARINET CONSORT ... UM CONCERTO...

... Mais uma vez, peço-vos desculpa...
Desta vez, vou-vos falar de ...
Música Antiga.
Aconteceu, na ATALAIA, no passado Domingo dia 09 de Janeiro de 2011.
Pelas 17:00 horas, um final de tarde diferente.
Na Igreja da Atalaia, bem perto de Alcochete, ouviu-se música de qualidade.
Quem lá foi, assistiu a mais um concerto do Agrupamento de Música Antiga
CLARINET CONSORT

Este agrupamento presenteou os presentes com peças de Bach, Pachelbel e Monteverdi. Eu como não podia deixar de ser, estive lá, filmei e fotografei. A seu tempo elas aqui serão mostradas e partilhadas.
Afinal era eu, entre os demais um Pai babado. E tinha várias razões para isso.
Em primeiro porque um dos elementos, o único elemento feminino é minha filha. Depois porque realmente, e embora sendo suspeito (acho eu), o concerto de ontem foi brilhante.
Com Direcção do Maestro António Menino, teve participação de alguns elementos diferentes, nomeadamente a Soprano Sara Laureano.
Mas ainda mais, um dos instrumentos que participou foi uma TIORBA, tocado pelo Agostinho.
O ambiente, propício, de realçar o empenhamento do Pároco da Atalaia em ceder aquele lindo espaço, para ouvir estas peças tão bem executadas.
Não vos sei dizer quanto tempo durou, mas fiquei com a sensação de que esses momentos foram demasiado breves.
Uma sonoridade especial, clarinetes brilhantemente "manipulados", cordas da Tiorba dedilhadas ao pormenor, e uma linda voz de soprano acompanhando todo aquele conjunto, proporcionou aos presentes um final de tarde de Domingo de Janeiro diferente.
Ao terminar, era unânime o tipo de comentários. Satisfação generalizada.
Muito bom.
Pois é, foi verdade...
... aconteceu ontem na Igreja de Nossa Senhora da Atalaia ...
Desculpem-me mais uma vez, não é que eu seja suspeito, mas realmente senti-me orgulhoso como Pai e como amigo de todos eles, ou quase ...
... Aconteceu na Atalaia ... e agora aguardamos o próximo ...
... Onde e quando será ... que este grupo vai espalhar mais beleza musical ?

(Imagem do Cartaz do Concerto cedido pelo Agostinho)

quinta-feira, janeiro 06, 2011

... um olhar sobre ... Linhares do "Parapent" ...

 
Torre de Menagem ... Castelo de Linhares ...
(... de FAIRES )

... em Dia de Paz... conversa ao Sol ...

... era início de mais uma tarde...
... almoço terminado, cozinha arrumada, a janta já adiantada ... afinal era o primeiro dia do ano ...
... era dia de festa, os forasteiros acorriam à terra como formigas ... estava Sol, estava bom tempo ... dava o seu ar de graça logo no primeiro dia do ano, como que a tentar aquecer os corações e oferecer esperança para o novo ano ...
... tinham ido à missa, como era tradição, e para alguns obrigação ... não era Domingo, mas era o Dia Mundial da Paz, e tinham ido agradecer as dádivas recebidas no Velho e pedir ajuda para o Novo...
... era o primeiro dia do Novo ... forasteiros, gente desconhecida, aproveitando o Sol, dava também o seu primeiro passeio no Novo, como que retemperando energias para o que aí vem ...
... um dos pontos de interesse, a Igreja Matriz, imponente, dava as boas vindas a estes forasteiros ...
Nas escadas, como que aquecendo a alma mais junto ao Senhor, três mulheres, conversavam sobre tudo e sobre nada, eram amigas de longa data, desde os dias de infância, ainda quando andavam na escola. Tinham aprendido tudo o que sabiam, sabiam tudo uma das outras, conheciam toda a gente que morava no "povo". Eram confidentes, "cuscas", conheciam as alegrias e desventuras, sempre partilharam experiências de Vida.
Conheciam toda a gente, só não conheciam os forasteiros que lhes faziam uma visita naquele dia soalheiro.
Eu, "coscuvilheiro", fui-me aproximando até ouvir o que diziam.



- Oh Felismina, já viste aquele que vai além, com um casaco vermelho, com o miúdito pela mão ?
- Sim, aquele rapaz careca ? Vê lá, tão novo, e já com aquela careca no cucuruto? - responde, perguntando a Felismina ...
- Não é o filho do Manel das ovelhas... O que está la para Lisboa ?
- Olha, esta agora ! Então o Manel não tem só duas filhas ?
Felismina tinha na face, marcada por "vales profundos" dos desatinos da vida, os olhos muito abertos e um ar de espanto.
Parou pensando se aquilo que tinha acabado de perguntar, faria algum sentido. Afinal ela conhecia toda a gente lá do povo.
- As filhas do Manel, uma está em Lisboa. Até quando aí vem, vem sempre toda "empiriquitada", nem fala a ninguém... É uma parvita...O pai é que sofre. A outra está ali perto de Castelo Branco. Essa aí é mais simpática... Agora filho, não lhe conheço nenhum...
Terminou este discurso pondo a mão no queixo, como que não tendo bem a certeza do que acabava de dizer.
Maria Antónia, olhou para Felismina, como que duvidando desta certeza ... Afinal também ela conhecia toda a gente, filhos e netos da terra ...
- Olha não sei, vem aí tanta gente ! Agora com o Castelo tão bonito, é um corropio.
Continuando, Maria Antónia continuava com um "ar de dúvida" estampado no rosto...
- Até o Padre, hoje na missa, na "ómilia", falou do Castelo. Então não ouviram? Falou da nova estalagem e do castelo.Também não sei para o que lhe deu... falar dessas coisas numa missa, coisa de rapazolas... se o Bispo sabe...
- Mas , Oh Felismina, parece-me a mim que este é o mais novo do Manel... Eu acho que ele tem um rapaz ... Mas pronto, logo pergunto-lhe, quando o vir depois da janta... - voltou Maria Antónia " à vaca fria", que é como quem diz , à questão .

Felismina nem respondeu. Estava a olhar para o terreiro à frente da igreja... o Sol, estava mesmo a saber-lhe bem ... Ontem tinha chovido tanto e estava tanto frio ... Quem diria, hoje o Sol assim tão lindo... nem ouvia a Maria Antónia.
- Então faz algum mal o Padre falar dessas coisas lá na missa ? Não vem mal nenhum ao Mundo... Pode ser que haja mais trabalho... Olha vê lá se tem algum problema ...
Maria Antónia, falava, mas não tinha a certeza se alguém a ouvia...
Ficaram as três caladas, apreciando e aproveitando aquele calor dado pelo "Rei" .
Durante dois ou três minutos, nenhuma palavra... Apenas se ouvia o burburinho dos passos e conversas dos forasteiros, entrecortadas com gritos  e risos de algumas crianças que corriam e bricavam no terreiro dando largas à alegria deles e do dia ... tudo estava em Paz e sossego ...
 
No meio das poucas palavras, pois estas amigas não precisavam muitas vezes de falar ... as cumplicidades de tantos anos, permitiam dialogar com o olhar ou com o gesto ...
Mas havia, uma, uma destas mulheres daquele "povo", que ainda não tinha dito nada. Por cima da cabeça, tinha um xaile ... escondia o rosto ... 
Ao olhar fixamente para aquelas três mulheres, eu, também um forasteiro, reconheci aquelas feições, reconheci aquela cara marcada também ela pelas desventuras da Vida...
Era Maria Pia ... a Lavadeira ... a que lavava a roupa mas não a Vida ... 
Que teria acontecido para, estar ali naquela hora ... Não estava com a barriga encostada ao tanque ...
As mãos, como estariam ? Ainda frias como duas pedras de gelo ?
Escondia o rosto do Sol...
Estive mesmo para me dirigir a Maria Pia, subir aqueles degraus e pedir-lhe :- Maria, deixa que o Sol te core a face. Deixa que o Sol te aqueça as mãos, porque o coração esse, sei eu está cheio de calor para dar...
Mas não, deixei que Maria Pia, com o rosto tisnado e "cavado " pela Vida, continuasse ali, apenas a escutar as suas amigas. É que ela, não falava, mas também conhecia toda a gente do povo... as suas gentes. Apenas escutava, palavras ...
Mas a mim, Maria Pia não me conhecia.Eu, como tantos outros, era um forasteiro, que por mero acaso ali estava naquele dia.
Olhei mais uma última vez, e deixei Maria Pia com as suas amigas, em paz, naquele Dia Mundial da Paz.
Virei as costas sorrindo. Sorri de contentamento. Pelo menos hoje, Maria Pia não era a Lavadeira...Era uma mulher, que conversava, ou pelo menos escutava.
Parti, como outros tantos forasteiros, mas certamente mais feliz, porque me pareceu a mim que Maria Pia também, naquele momento estava feliz...
Em dia de Paz, escutava uma conversa ao Sol...
E eu também escutei... é feio ouvir as conversas alheias ... desculpa Maria Pia...
(Fotografias de FAIRES)

terça-feira, janeiro 04, 2011

... lavadeira ... de roupa mas não da Vida ...

Maria Pia, era como o seu pai, um dia, há 56 anos lhe tinha chamado…
Era uma mulher simples, cara enrugada, feições simples.
Maria Pia era viúva, mãe de quatro filhos, andavam todos “à escola”, era como se dizia lá na terra.
Há dois anos, por esta altura, a Vida tinha-lhe pregado uma partida.
Era noite, lá fora, fora daquelas quatro paredes, nas vésperas do Natal…
Lá fora fazia frio, a noite estava escura como breu. Na serra, nas terras outrora de Viriato, nevava. Amanhã, os primeiros raios de Sol iam mostrar a Maria a paisagem manchada de um branco alvo.
Batiam à porta, nessa noite fria, estavam a bater-lhe à porta.
Com este frio, a esta hora da noite, quem seria? Quem teria tido a coragem de percorrer os caminhos estreitos e as veredas na serra?
Abriu a porta…

- Boa noite, Maria – disse-lhe o sargento da guarda.
- Boa noite, Severino. Então por aqui a esta hora. Está tanto frio – respondeu Maria.

Maria conhecia Severino desde os tempos de criança. Tinham brincado juntos. Agora Severino era Sargento da GNR. Era a autoridade lá da terra.

- Desculpa Maria, mas não te trago boas notícias. Houve um acidente, na estrada da beira… O teu Joaquim…

Maria recuou, como se tivesse levado uma pancada no peito. Sentia o seu coração a bater a galope… O seu Joaquim …
O pânico apoderou-se da sua mente. Maria sabia, no seu coração que Joaquim não estava bem. Severino não trazia boas notícias. Tinha havido um acidente…
Os seus filhos, olhavam para Maria Pia. De olhos abertos, feições marcadas pelo medo, olhavam para a mãe, ao mesmo tempo que duas lágrimas percorriam os sulcos da face de Maria.
Maria Pia, fitou os seus filhos, e perguntou-se:

- Como vai ser a nossa vida?

Tinha sido há dois anos. A sua vida tinha dado uma reviravolta …

Nesta noite, Maria estava sentada num pequeno “mocho”, olhava para as brasas do seu pequeno lume de chão. Recordava aquela noite, há dois anos… Enquanto remexia no borralho.
Levantou a cabeça. Olhou para os seus filhos, que terminavam a janta.
Hoje, nesta noite estava tanto frio. Lá fora o vento e a chuva não paravam. Estava frio naquelas terras outrora percorridas por Viriato.
A janta hoje, tinha sido de gala. Sopa, duas pequenas postas de bacalhau com batatas e couves para todos, e depois rabanadas. Afinal era véspera de Natal. Tinha nascido o Menino da Esperança.
Maria, não tinha comido mais nada. Apenas um prato de sopa. Estava cansada.
Sentada no mocho, remexia o borralho, em busca de mais calor.
Amanhã, era dia de Natal.
Amanhã, Maria tinha de ir ao tanque do povo, para lavar a roupa. Desde esse dia, há dois anos, que era Lavadeira…
No Inverno custava muito, sofria…
Lavava roupa todos os dias, fosse Inverno ou fosse Verão… Lavava, pendurava, passava a ferro.
Todos os dias, até no dia de Natal. Se continuasse a chover, a roupa amanhã tinha de secar debaixo do telheiro.
Não era a mesma coisa. O Sol não lhe chegava e não corava a roupa branca.
A água estava gelada. As mãos doíam.
Hoje também tinham doído. Hoje também estavam geladas. Quando terminou a “faina” pareciam duas pedras de gelo, roxas …
Mas hoje tinha sido especial. Os filhos tinham ido ajudar, para poderem cear. Não tinham escola.
Mexia no borralho. Mesmo assim, as suas mãos, crestadas e tisnadas pelo tempo e sofrimento, estavam ainda frias.
Ao levantar-se da mesa, depois de ter comido o prato de sopa, Maria, afagou cada um dos filhos único presente de Natal que lhes podia oferecer, ao mesmo tempo que lhes dizia :

- Feliz Natal, meus filhos. O Menino vem hoje visitar-nos.
- Mãe, tens as mãos tão frias!! Até doi quando me tocas na cara – disse-lhe o mais novo.
- Mãe, não faz mal, o teu carinho é tão quentinho, mesmo com as mãos frias ! – disse-lhe a do meio.

Afinal Maria era também lavadeira. Lava roupa durante o dia.
Lavava roupa de manhã ao cair da noite, fosse Inverno ou Verão…
Olhava para os seus filhos… Eram o seu tesouro… Aqueciam o seu coração…
Maria continuava sentada junto ao borralho. Já não chorava. O frio tinha-lhe secado as lágrimas.
O frio da Vida, o gelo tinha-lhe roubado a possibilidade de chorar, mas não lhe tinha gelado a saudade e o sofrimento.
As mãos, essas continuavam frias. Mas as suas mãos, mesmo geladas, davam calor e conforto.
Afinal Maria Pia, era lavadeira. Lavava roupa, mas não conseguia lavar a sua vida.
Lavava roupa fosse Inverno ou fosse Verão. O Sol secava a roupa lavada, dava novas cores à roupa estendida, aquecia a roupa e os Homens, mas não aquecia Maria.
Fosse Inverno ou fosse Verão, Maria Pia lavava roupa durante o dia ...


(Fotografias de FAIRES)