... almoço terminado, cozinha arrumada, a janta já adiantada ... afinal era o primeiro dia do ano ...
... era dia de festa, os forasteiros acorriam à terra como formigas ... estava Sol, estava bom tempo ... dava o seu ar de graça logo no primeiro dia do ano, como que a tentar aquecer os corações e oferecer esperança para o novo ano ...
... tinham ido à missa, como era tradição, e para alguns obrigação ... não era Domingo, mas era o Dia Mundial da Paz, e tinham ido agradecer as dádivas recebidas no Velho e pedir ajuda para o Novo...
... era o primeiro dia do Novo ... forasteiros, gente desconhecida, aproveitando o Sol, dava também o seu primeiro passeio no Novo, como que retemperando energias para o que aí vem ...
... um dos pontos de interesse, a Igreja Matriz, imponente, dava as boas vindas a estes forasteiros ...
Nas escadas, como que aquecendo a alma mais junto ao Senhor, três mulheres, conversavam sobre tudo e sobre nada, eram amigas de longa data, desde os dias de infância, ainda quando andavam na escola. Tinham aprendido tudo o que sabiam, sabiam tudo uma das outras, conheciam toda a gente que morava no "povo". Eram confidentes, "cuscas", conheciam as alegrias e desventuras, sempre partilharam experiências de Vida.
Conheciam toda a gente, só não conheciam os forasteiros que lhes faziam uma visita naquele dia soalheiro.
Eu, "coscuvilheiro", fui-me aproximando até ouvir o que diziam.
... tinham ido à missa, como era tradição, e para alguns obrigação ... não era Domingo, mas era o Dia Mundial da Paz, e tinham ido agradecer as dádivas recebidas no Velho e pedir ajuda para o Novo...
... era o primeiro dia do Novo ... forasteiros, gente desconhecida, aproveitando o Sol, dava também o seu primeiro passeio no Novo, como que retemperando energias para o que aí vem ...
... um dos pontos de interesse, a Igreja Matriz, imponente, dava as boas vindas a estes forasteiros ...
Nas escadas, como que aquecendo a alma mais junto ao Senhor, três mulheres, conversavam sobre tudo e sobre nada, eram amigas de longa data, desde os dias de infância, ainda quando andavam na escola. Tinham aprendido tudo o que sabiam, sabiam tudo uma das outras, conheciam toda a gente que morava no "povo". Eram confidentes, "cuscas", conheciam as alegrias e desventuras, sempre partilharam experiências de Vida.
Conheciam toda a gente, só não conheciam os forasteiros que lhes faziam uma visita naquele dia soalheiro.
Eu, "coscuvilheiro", fui-me aproximando até ouvir o que diziam.
- Oh Felismina, já viste aquele que vai além, com um casaco vermelho, com o miúdito pela mão ?
- Sim, aquele rapaz careca ? Vê lá, tão novo, e já com aquela careca no cucuruto? - responde, perguntando a Felismina ...
- Não é o filho do Manel das ovelhas... O que está la para Lisboa ?
- Olha, esta agora ! Então o Manel não tem só duas filhas ?
Felismina tinha na face, marcada por "vales profundos" dos desatinos da vida, os olhos muito abertos e um ar de espanto.
Parou pensando se aquilo que tinha acabado de perguntar, faria algum sentido. Afinal ela conhecia toda a gente lá do povo.
- As filhas do Manel, uma está em Lisboa. Até quando aí vem, vem sempre toda "empiriquitada", nem fala a ninguém... É uma parvita...O pai é que sofre. A outra está ali perto de Castelo Branco. Essa aí é mais simpática... Agora filho, não lhe conheço nenhum...
Terminou este discurso pondo a mão no queixo, como que não tendo bem a certeza do que acabava de dizer.
Maria Antónia, olhou para Felismina, como que duvidando desta certeza ... Afinal também ela conhecia toda a gente, filhos e netos da terra ...
- Olha não sei, vem aí tanta gente ! Agora com o Castelo tão bonito, é um corropio.
Continuando, Maria Antónia continuava com um "ar de dúvida" estampado no rosto...
Continuando, Maria Antónia continuava com um "ar de dúvida" estampado no rosto...
- Até o Padre, hoje na missa, na "ómilia", falou do Castelo. Então não ouviram? Falou da nova estalagem e do castelo.Também não sei para o que lhe deu... falar dessas coisas numa missa, coisa de rapazolas... se o Bispo sabe...
- Mas , Oh Felismina, parece-me a mim que este é o mais novo do Manel... Eu acho que ele tem um rapaz ... Mas pronto, logo pergunto-lhe, quando o vir depois da janta... - voltou Maria Antónia " à vaca fria", que é como quem diz , à questão .
Felismina nem respondeu. Estava a olhar para o terreiro à frente da igreja... o Sol, estava mesmo a saber-lhe bem ... Ontem tinha chovido tanto e estava tanto frio ... Quem diria, hoje o Sol assim tão lindo... nem ouvia a Maria Antónia.
- Então faz algum mal o Padre falar dessas coisas lá na missa ? Não vem mal nenhum ao Mundo... Pode ser que haja mais trabalho... Olha vê lá se tem algum problema ...
Maria Antónia, falava, mas não tinha a certeza se alguém a ouvia...
Ficaram as três caladas, apreciando e aproveitando aquele calor dado pelo "Rei" .
Durante dois ou três minutos, nenhuma palavra... Apenas se ouvia o burburinho dos passos e conversas dos forasteiros, entrecortadas com gritos e risos de algumas crianças que corriam e bricavam no terreiro dando largas à alegria deles e do dia ... tudo estava em Paz e sossego ...
Felismina nem respondeu. Estava a olhar para o terreiro à frente da igreja... o Sol, estava mesmo a saber-lhe bem ... Ontem tinha chovido tanto e estava tanto frio ... Quem diria, hoje o Sol assim tão lindo... nem ouvia a Maria Antónia.
- Então faz algum mal o Padre falar dessas coisas lá na missa ? Não vem mal nenhum ao Mundo... Pode ser que haja mais trabalho... Olha vê lá se tem algum problema ...
Maria Antónia, falava, mas não tinha a certeza se alguém a ouvia...
Ficaram as três caladas, apreciando e aproveitando aquele calor dado pelo "Rei" .
Durante dois ou três minutos, nenhuma palavra... Apenas se ouvia o burburinho dos passos e conversas dos forasteiros, entrecortadas com gritos e risos de algumas crianças que corriam e bricavam no terreiro dando largas à alegria deles e do dia ... tudo estava em Paz e sossego ...
No meio das poucas palavras, pois estas amigas não precisavam muitas vezes de falar ... as cumplicidades de tantos anos, permitiam dialogar com o olhar ou com o gesto ...
Mas havia, uma, uma destas mulheres daquele "povo", que ainda não tinha dito nada. Por cima da cabeça, tinha um xaile ... escondia o rosto ...
Ao olhar fixamente para aquelas três mulheres, eu, também um forasteiro, reconheci aquelas feições, reconheci aquela cara marcada também ela pelas desventuras da Vida...
Era Maria Pia ... a Lavadeira ... a que lavava a roupa mas não a Vida ...
Que teria acontecido para, estar ali naquela hora ... Não estava com a barriga encostada ao tanque ...
As mãos, como estariam ? Ainda frias como duas pedras de gelo ?
Escondia o rosto do Sol...
Estive mesmo para me dirigir a Maria Pia, subir aqueles degraus e pedir-lhe :- Maria, deixa que o Sol te core a face. Deixa que o Sol te aqueça as mãos, porque o coração esse, sei eu está cheio de calor para dar...
Mas não, deixei que Maria Pia, com o rosto tisnado e "cavado " pela Vida, continuasse ali, apenas a escutar as suas amigas. É que ela, não falava, mas também conhecia toda a gente do povo... as suas gentes. Apenas escutava, palavras ...
Mas não, deixei que Maria Pia, com o rosto tisnado e "cavado " pela Vida, continuasse ali, apenas a escutar as suas amigas. É que ela, não falava, mas também conhecia toda a gente do povo... as suas gentes. Apenas escutava, palavras ...
Mas a mim, Maria Pia não me conhecia.Eu, como tantos outros, era um forasteiro, que por mero acaso ali estava naquele dia.
Olhei mais uma última vez, e deixei Maria Pia com as suas amigas, em paz, naquele Dia Mundial da Paz.
Virei as costas sorrindo. Sorri de contentamento. Pelo menos hoje, Maria Pia não era a Lavadeira...Era uma mulher, que conversava, ou pelo menos escutava.
Parti, como outros tantos forasteiros, mas certamente mais feliz, porque me pareceu a mim que Maria Pia também, naquele momento estava feliz...
Em dia de Paz, escutava uma conversa ao Sol...
E eu também escutei... é feio ouvir as conversas alheias ... desculpa Maria Pia...
(Fotografias de FAIRES)
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