… Fim de tarde … Uma praia qualquer, num fim de tarde qualquer...
... Estava sentado, pernas estendidas, pés descalços, mãos enterradas na areia, ligeiramente reclinado para trás…
Quem por ali caminhasse, e parasse apenas via um homem sentado, olhando o horizonte.
Nada mais transparecia daquela imagem de fim de tarde, naquela praia.
As ondas iam percorrendo, mais metros de praia, a cada leva de entrada… Dizia-se, tecnicamente falando, que estava-se a atingir a preia-mar.
Eram poucos, os corajosos que ao fim da tarde se aventuravam a enfrentar e brincar nas ondas. Estas, como que com cadência matemática, iam lambendo as areias a cada leva. As pequenas pedras e conchas que ficavam nas areias, reluziam como se de diamantes se tratassem. Parecia um bailado em salão decorado com pedras preciosas.
O Sol, ia-se escondendo ao fundo, para além da linha do horizonte, dando cada vez mais, protagonismo à estrela que era sempre a primeira a surgir no céu daquela praia. Toda a gente lhe chamava estrela, mas na realidade era Vénus, o planeta, que todos os dias ao fim da tarde, início de noite, vinha acordar os passeantes daquela praia…
No horizonte, no céu, desenhavam-se linhas que mais pareciam labaredas de um fogo intenso. Estava agora manchado de cores quentes, laranja e vermelho…
Um miúdo, que por ali brincava, não devia ter mais do que 10 anos, reparou naquele homem ali sentado, sem fazer ou dizer qualquer coisa… Também ele, tinha reparado não só naquele homem, mas na pequena estrela, a tal que afinal não era estrela, que aparecia pouco a pouco no firmamento. Como muitos que por ali passavam, também aquele miúdo reparou no homem sentado.
Com a curiosidade própria de uma criança, estava tentado a ir-se sentar ao lado do senhor da praia… foi o nome que lhe deu, quando a mãe lhe disse, para não incomodar o senhor. Ficou o senhor da praia...
Mas, era mais forte do que ele, e correndo, sentou-se ao lado daquele homem, com um pequeno balde e uma pá nas mãos, brincando na areia… Enquanto brincava, olhava de soslaio para o senhor da praia… Nem um nem outro, durante mais ou menos o tempo de dez idas e vidas das ondas que continuavam o seu bailado sobre as areias da praia, disseram alguma coisa… nem tão pouco sorriram um para o outro… Um brincava com a areia, o outro olhava para além...
O som das ondas, o burburinho da maré, era a companhia daqueles dois homens, sentados na praia…
De repente, uma onda maior veio molhar os pés do pequeno, deitando por terra dois ou três pequenos montes de areia que tinham sido construídos pelo miúdo…
- Puxa, está fria – disse o miúdo sorrindo.
- É melhor ires ter com a mãe! Ela pode estar preocupada!
- Não faz mal, ela sabe que estou aqui ao pé de ti !
- O que é que estamos a fazer? Não sei como se chama esta brincadeira? – perguntou, o miúdo.
Ele nunca tinha brincado assim!
O senhor da praia, sorriu… Não lhe tinha passado pela cabeça este tipo de questão… Seria que também estava a brincar, e não sabia… Nãaaa!!!... Já não tinha idade para este tipo de palermices… Mas decidiu entrar na brincadeira.
Virou-se para o miúdo, pegou-lhe na pequenina mão cheia de areia, e disse-lhe:
- Sabes, esta brincadeira chama-se “Sonhar”. Há muitos anos atrás…
Interrompendo, pergunta-lhe o miúdo:
- Mas tu já foste pequeno como eu ???
Sorrindo, novamente, aquele homem, continuou…
- Sim, até já fui mais pequeno do que tu, e depois cresci. Mas quando eu era jovem, num país distante, tive um sonho. Sonhava com um Mundo melhor, sonhava com as pessoas mesmo que diferentes, vivessem em paz… Nasci há muitos anos, e um dia anunciei ao Mundo que tinha um sonho…
- E agora és velhinho, como o meu avô, não é? – disse o miúdo.
Continuando:
- E eu, agora estava aqui, a olhar para o mar, estava a olhar para o céu, a ouvir a música do mar, e ao mesmo tempo estava a sonhar, voltei a sonhar, estava a imaginar como seria se os sonhos se tornassem realidade. Como seria se aquele sonho se tivesse tornado real...
- E consegues sonhar de dia? Eu só tenho sonhos quando estou a dormir à noite, sabias?
- Mas olha, este sonho é um sonho especial. É um sonho para todos os Homens da Terra! Também é um sonho teu, para ti… - respondeu o senhor da praia.
Ficou pensativo, o miúdo. Que sonho seria? Nem o pai ou a mãe lhe tinham dito nada.
- Também é do meu pai e da minha mãe? – perguntou.
- Sim, é de todos. E todos deveriam sonhar este sonho.
- Como é que sabes que o sonho é para toda a gente? – perguntou novamente o miúdo.
- Como sabes que sonho era? Ainda te lembras do sonho? – continuou a perguntar
As perguntas não paravam…
Por momentos, talvez por minutos, ficaram em silêncio. Apenas ouviam o imenso ruído das ondas, que continuavam a lamber as finas areias daquela praia. O senhor da praia e o miúdo, olhavam os dois o mar, até onde os olhares alcançavam. O Sol ia descendo, palmilhando o seu caminho para outras paragens. Ia paulatinamente dando lugar à luz cintilante das estrelas que se desenhavam no firmamento. As cores até há bem pouco tempo quentes, iam também elas iam escurecendo. O céu ia tomando a cor quase violeta.
Já estava há muito tempo calado, o miúdo.
- E o sonho? Como é que disseste a toda a gente? – perguntou o miúdo.
O senhor do mar, virou-se para o miúdo, e sorrindo, replicou:
- Vou-te mostrar, vais ouvir como é que eu disse. Se não perceberes, dizes-me que eu explico-te o que quer dizer…
Ao mesmo tempo, pegava num pequeno rádio a pilhas, ligou-o e ouviu-se, sobre o burburinho das ondas do mar:
O miúdo ouviu com toda a atenção.
Perguntou, abrindo muito os olhos:
- Afinal, tu tiveste mesmo um sonho ?
O senhor da praia, virou-se para aquele miúdo e com os olhos marejados de lágrimas, respondeu-lhe:
- Não, eu TENHO UM SONHO ! " I HAVE A DREAM ..."
- E como eu, muitos têm ou tiveram este sonho. Só tenho pena de serem poucos.
- E eu, posso também ter este sonho ? - pergunta-lhe o miúdo.
- Sim, deves ter este sonho. - respondeu-lhe.
- Então, quando for grande, vou dizer também que tive este sonho, e se calhar até faço uma música, para ser diferente de ti. Pode ser? Vou dizer á minha mãe e ao meu pai...
Correu alguns metros, voltou-se para ... Mas...
O senhor da praia, tinha desaparecido de repente... O miúdo correu, dirigiu-se à mãe e ao pai, mas não lhes contou nada.
O senhor da praia, tinha desaparecido de repente... O miúdo correu, dirigiu-se à mãe e ao pai, mas não lhes contou nada.
Teria aquele miúdo tido um sonho ?
Aquele miúdo, lembram-se, entretanto cresceu... Tornou-se homem, seguiu o seu caminho. Um dia, em 1971, mais uma vez se recordou daquela tarde numa praia qualquer. Sentou-se ao piano que tinha na sua sala e decidiu compôr. Dos seus dedos, naquele dia nasceu uma das mais belas obras da música, para todos os tempos...
Afinal, tinha prometido fazer uma música... Talvez fosse um sonho... Este tornado real...
Martin Luther King nasceu a 15 Jan. 1929. Se fosse vivo teria agora 82 anos. Como seria o Mundo se tal tivesse sido permitido?
Este homem, sonhou... tinha um sonho...
Teve a coragem de dizer qual era o seu sonho ...
Em 04 Abril de 1968, mataram o Homem, mas não mataram o sonho...Não é nada de novo... Novidade seria sermos capazes de manter vivos estes sonhos... Este discurso foi feito em 28 de Agosto de 1963. " I have a dream..."
Por pura ficção e alguma falta de imaginação, era aquela criança que estava naquele fim de tarde, naquela praia, numa praia qualquer... poderia ser Jonh Lennon...Digo assim, porque com a sua obra "IMAGINE", considero também Lennon um sonhador...
Também ele tinha um sonho... Este talvez ainda em sonho... Ainda não é real...
( Pura ficção )
(Video e imagens retiradas da internet)
É imprescindível que tenhamos UM SONHO ASSIM !
ResponderEliminarE que cada um vá colocando a pedra que tem para o concretizar.
Um abraço.
Olá amigo, gostei do sonho...Espectacular....
ResponderEliminarCumprimentos