Hoje faz 40 anos. Foi em 29 de Outubro de 1969 que foi enviada a primeira mensagem por Correio Electrónico entre dois computadores situados em locais distantes, quase dois meses depois da primeira tentativa.
Desde o início da década de 60 que surgiram os primeiros sistemas de troca de mensagens entre dois terminais de um mesmo computador, primeiro em tempo diferido e depois em tempo real.
Mas em 1969, há 40 anos, havia de surgir uma forma de comunicação completamente "revolucionária".
Com isto surgiram muitas novas formas de comunicação. As pessoas podiam, em tempo real, comunicar por escrito. Também foi o início do "spam" em 1978, depois estes com "vírus", hoje é o que temos.
Foi há 40 anos, que surgindo esta nova forma de comunicação, nascia também a possibilidade de eu estar aqui a debitar o meu "português", para uma infinidade de pessoas, que circulam neste meio desta "esfera".
Se é verdade que a rapidez e eficiência aumentou de uma forma exponencial, também é verdade que se perdeu algum romantismo no papel e na caneta, na "carta" manuscrita, onde existe sempre um "cunho pessoal".
Não escrevi assim tantas cartas como isso.
Mas gostava de receber cartas. Reconheço algum egoísmo.
Cartas.
Tantas cartas. Tantos tipos de cartas.
Como seria, se existisse e-mail em 1919, inícios de 1920.
Como seria que Fernando Pessoa, "transformaria", uma das suas cartas para Ophélia Queiroz, por quem possivelmente estaria profundamente apaixonado.
São cerca de 4 horas da madrugada e acabo, apezar de ter todo o corpo dorido e a pedir repouso, de desistir definitivamente de dormir. Ha trez noites que isto me acontece, mas a noite de hoje, então, foi das mais horriveis que tenho passado em minha vida. (...)
(...)
Diz-me uma cousa, amorzinho: Porque é que te mostras tão abatida e tão profundamente triste na tua segunda carta – a que mandaste hontem pelo Osorio? Comprehendo que estivesses tambem com saudades; mas tu mostras-te de um nervosismo, de uma tristeza, de um abatimento tães, que me doeu immenso ler a tua cartinha e ver o que soffrias. O que te aconteceu, amôr, além de estarmos separados? Houve qualquer cousa peor que te acontecesse? Porque fallas num tom tão desesperado do meu amor, como que duvidando d’elle, quando não tens para isso razão nenhuma? (...)
(...)
Estou cheio de frio, vou estender-me na cama para fingir que repouso. Não sei quando te mandarei esta carta ou se acrescentarei ainda mais alguma cousa.
Ai, meu amor, meu Bébé, minha bonequinha, quem te tivesse aqui! Muitos, muitos, muitos, muitos, muitos beijos do teu, sempre teu
Fernando 19/02/1920"
(palavrastodaspalavras.wordpress.com/.../carta-de-fernando-pessoa-para-ophelia-queiroz-portugal)
(Foram copiados alguns "pedaços")
Seria da mesma forma româtica ?
Seria da mesma forma longa ?
Teria a mesma paixão ?
Não teria certamente esperado tanto tempo para saber se Ophélia tinha ou não recebido a sua carta.
Ophélia, certamente, pegaria no seu Portátil, sentada a ver uma qualquer novela na televisão da sua sala, responderia de imediato ao "seu Fernando " (... não sou eu ...), dizendo-lhe, talvez, que também o amava.
Será que Fernando Pessoa, enquanto estava a escrever esta carta, para a sua Ophélia, estava ao mesmo tempo a ouvir uma qualquer obra musical, que lhe entrava pelas janelas da sua casa, em frente ao Teatro S. Carlos? ( Zé Pedro da Sal talvez saiba a resposta )
Não sei, o que responder ou concluir.
Uma coisa é certa, há 40 anos algo transformou o "mundo da comunicação".
Só gostava, como em tudo, que estas novas tecnologias que apareceram e vão aparecendo cada vez mais, fossem utilizadas por Homens, no sentido de contribuirem e construirem um Mundo cada vez melhor e mais justo.
Pois é. Faz hoje 40 anos. Em 29 de Outubro de 1969, era enviado o primeiro e-mail a sério.
PARABÉNS e-mail !!