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UMA FIGURA PÚBLICA …
Escrevo
estas imensas linhas, a propósito de um programa de rádio que ouvi, e e um
artigo que li no Faceboock com o título, “Horário
dos Professores”.
Este
é o título de um “apontamento” que li no Faceboock, inserido, penso eu, na
temática do Estado da Educação, assunto recorrente, frequentemente discutido,
debatido, com alterações mais ou menos frequentes, mas cujo resultado de tanto
estudo, debate e …. não sei mais o quê, tem tido como resultado … quase ZERO.
Tenho
respeito por todas as classes profissionais, todas as profissões e todos os
profissionais, desde que exerçam as suas funções com dignidade, respeito e
cumpram as suas tarefas com o melhor desempenho e zelo, que sabem e podem.
Pela
classe dos Professores, tenho um respeito ainda maior, até porque do seu
desempenho depende grande parte do desenvolvimento da Sociedade e de um país em
termos de Educação, Formação ou Conhecimento. (Conheço alguns, alguns até fazem o favor de ser meus amigos ... só não sei se no fim disto o irão continuar a fazer ... mas ... paciência). Evidentemente, que sozinhos,
muito pouco ou nada, conseguem. E está à vista, quando, no processo educativo e
formativo de uma sociedade, não existe sintonia entre os diversos
intervenientes, a avaliar pelo Estado da Educação em Portugal que não é dos melhores, a avaliar pelas notícias. Neste processo,
a intervenção dos Professores deve e tem de ser acompanhada pela intervenção
dos Pais e Encarregados de Educação, Assistentes de Acção Educativa,
Administrativos, Directores, Gestores, etc, etc ….
Também
este processo e todos os seus intervenientes devem ser alvo de procedimentos de
avaliação, de uma forma rigorosa e exigente. Não estou aqui nem é o assunto que
me traz aqui, falar das formas de avaliação. Mas que ela deve existir, disso
não tenho a mais pequena dúvida.
Voltando
ao assunto.
Li
o artigo com atenção, e até dei por mim a quase conferir as contas que se
encontram tão bem explicadas no mesmo artigo.
Quanto
ao facto de que os Professores trabalham, em geral, muito, isso para mim também
não tem grande questão. Trabalham muito os Professores, os Gestores, os
Médicos, os Advogados, os Comerciantes, os Motoristas, … toda a gente trabalha
muito. Toda a gente trabalha muitas horas. A questão é saber se as trabalham
bem, se são eficientes, se produzem, atingem objectivos a que se propõem, entre
outras coisas.
E
o que seria, se cada um dos representantes destas classes profissionais,
fizessem um artigo a dizer que trabalham muito, explicando as tarefas que
executam, tempos médios de execução, periodicidades ou outros tantos itens de
análise utilizados neste tipo de análise.
Estes
profissionais, como tantos outros, trabalham muito e na sua grande, maioria
trabalham bem …
Como
em todas as profissões, há bons e maus profissionais …
Também
nos Professores, há bons e maus professores …
Os
Professores, trabalham grande parte do seu tempo, fora do seu posto de
trabalho, que é a Escola, ou o Estabelecimento de Ensino onde exercem a sua
profissão.
Por
exemplo, e se recorrer a dados numéricos, considerando um professor com um
horário de trabalho de 35 horas por semana, em que 22 delas são horas lectivas,
de uma forma directa, temos:
i)
Das 35
horas de trabalho semanal, apenas 62,9% são horas lectivas;
ii)
Das 35
horas de trabalho semanal, 37,1% são horas de trabalho não lectivo;
iii)
Ainda
um mais difícil de entender: as horas não lectivas correspondem a 59,1% das
horas lectivas;
O
que é que isto quer dizer?
Não
pensem … Não necessitam de responder … Eu respondo.
Nada
... Achei que ficava bem, colocar aqui alguns números ...
Por
isso, estranho este artigo, que me parece que pretende justificar o
injustificável. A sociedade no seu geral reconhece que esta classe
profissional, a dos Professores, é uma classe de extrema importância, digo
mesmo fundamental para o seu desenvolvimento e sustentabilidade. Formam, criam
o futuro do país.
Não é necessário vir a público justificar e informar que se trabalha muito.
Mas,
se por algum momento, surgir alguma dúvida, então, deve esta classe criar ou
implementar mecanismos que protejam a sua honra, que contribuam para a sua
dignificação, esclarecendo o comum dos mortais de uma forma inequívoca.
Por
exemplo:
a)
Exigir
das entidades oficiais (Governo, Ministério da tutela, Direcções Gerais, etc),
que sejam criadas as condições para que os Professores e restantes
profissionais do sector, exerçam a sua actividade dentro do estabelecimento de
educação de uma forma integral e digna, com a garantia que o fazem de uma forma
eficiente, cumprindo o seu horário de trabalho na sua totalidade.
Quero com isto dizer, que a qualquer
Professor, têm de ser dadas condições e instalações para que possa exercer o
seu trabalho sem ter de, ir para casa e proceder à correcção dos testes e
trabalhos em casa, ou elaborar os testes e planos de trabalho em casa, porque a
sua escola não tem nem um gabinete onde possam estes profissionais, no fundo,
trabalhar.
É que por causa desta dificuldade, para o
comum dos mortais, o trabalho do Professor é apenas dar aulas. E estranhamente,
quando em conversa, ou após a leitura do artigo, se diz que um determinado
Professor tem 22 horas de aulas, então como conclusão imediata, ele só trabalha
22 horas por semana, isto é, 62,9% do tempo total de trabalho semanal. É que
fazendo as contas, ainda lhe “sobram”, (está entre aspas de propósito), pelo
menos 13 horas.
De notar ainda, que um Administrativo da
mesma escola, trabalha 35 horas por semana, porque está presente, 35 horas no
seu posto de trabalho.
Além disso, e como é do conhecimento geral,
muitos dos Professores têm um dia, entendido por muita gente como sendo um dia
de “folga”. (Também está entre aspas).
Para qualquer profissional do sector, este
dia, é um dia que não é de folga, mas um dia em que o Professor não tem
actividades lectivas, isto é, não dá aulas. Mas tem de trabalhar, exercendo e
cumprindo com outras tarefas que são da sua responsabilidade.
Como não tem as tais condições de trabalho
na escola, fica em casa, ou não.
No entanto, para o comum dos mortais, o
Professor, tem um dia de descanso por semana. E na realidade, se vê o Professor
do seu filho, a beber um café, a uma hora que normalmente está a dar aulas,
então, esse Professor, está de folga… Não está a trabalhar.
E se em alguns casos, isso até poderá
acontecer, a parte não é exemplo nem serve como comprovativo do todo… Mas o
todo fica com a imagem da parte, e, como diz o povo, “paga o justo, pelo
pecador”.
b)
Exigir,
estabelecer planos de trabalho me funcionamento, de forma, a que as reuniões
sejam dentro do período das 35 horas.
Não façam reuniões aos Sábados…. Se não é
dia de trabalho, então estabeleçam planos de trabalho diferentes.
É que assim, não há a desculpa, que têm de
fazer horas extras e ninguém paga. Por um lado é verdade. Mas por outro lado, a
imagem que por vezes passa para o comum dos mortais não é bem essa.
Nos períodos de férias lectivas, para os alunos, há sempre "professores" que também estão de "férias". Não vão para as escolas, trabalhar. Estou a falar da altura do Natal, da Páscoa, ou até das férias grandes... Tenho a certeza de que não são todos, até sei que são muito poucos, mas todos sabemos que existem casos desses, não vale a pena dizerem que não ... é mais um exemplo de "tiro no pé". É que esses professores, depois de contadinhos, têm mais dias de férias que os outros, e mais uma vez, "paga o justo pelo pecador", ou seja ... " os "professores" têm mais férias do que ...". É a ideia que fica, logo o comentário que se faz. As férias são para os alunos.
c)
Exigir
condições para que os testes, os trabalhos para os alunos, a fichas, …tudo,
sejam feitos, integralmente nas instalações escolares, utilizando para isso os
recursos aí existentes, como é o caso de computadores, impressoras, tinteiros,
tonner’s, fotocopiadores, papel … sem terem de recorrer ao stock particular de
cada um.
Em resumo, exijam que sejam dados recursos,
como a qualquer profissional de outras áreas de trabalho, em que as entidades
empregadoras têm a responsabilidade de fornecer todos os meios, materiais e
equipamentos com vista ao bom desempenho e desenvolvimento da actividade.
A maior parte dos Encarregados de Educação,
não faz a mais pequena ideia de como são fornecidos, ou quem fornece as simples
folhas de papel onde se encontram redigidos os testes que os seus educandos têm
de fazer.
Por fim, mas não menos importante, antes
pelo contrário:
Exijam cumprir com desempenho e zelo a função
para a qual são “especializados”; ENSINAR, FORMAR, EDUCAR …
… isto é,
… exijam dar aulas … que já não é nada pouco, nem fácil.
Termos Professores a gerir as escolas em
termos financeiros, é algo que me leva a levantar muitas questões. Não que eu
duvide da honestidade ou idoneidade de cada um, mas apenas porque não é a sua
área de conhecimento.
No meu entender, e em questão de Gestão, a
Escola deve ser dirigida como uma empresa.
Ter um Director Geral, que pode ou não ser
Professor, ter um Director Financeiro, que deverá ser da área de Economia ou
Gestão, ter um Director de Recursos Humanos, de Instalações, que deverão ter formação
específica nessa área, ter um Director de “Operações”, este último sim,
PROFESSOR, porque deve saber de Pedagogia, deve perceber de Educação, Ensino, e
todo um conjunto de matérias com vista à obtenção do melhor “produto” final.
E o melhor “produto” final, é um bom
ensino, um ensino com qualidade, educandos bem formados, com conhecimento
adquirido e sustentado. Alguém conhece uma máquina para fazer este tipo de "produto" final ?
São estas “peças” deste “produto” final, o
sustentáculo do futuro do país, nas mais diversas vertentes. Não quero com isto dizer que as escolas ou estabelecimentos de ensino são mal geridos. Apenas quero dizer, que em muitos casos, os profissionais Professores, se encontram em palpos de aranha para cumprir com estas actividades e responsabilidades de gestão.
Vivo
temporariamente num país em vias de desenvolvimento, após um longo período de
guerra e de apenas 10 anos de paz. Aqui está-se a construir um país novo no
meio de uma sociedade que se debate todos os dias com problemas sociais graves.
Há meia dúzia de dias, vinha para o meu posto de trabalho, e na rádio estava-se
a falar de figuras públicas, questionando-se o que era ser, quem seriam as
figuras públicas.
E
ainda no seguimento do CAN 2013 (Campeonato Africano das Nações), e das
actividades a serem desenvolvidas agora durante o Carnaval, dizia um dos interlocutores,
que um determinado jogador de futebol, era uma figura pública, falando até na
questão do Cristiano Ronaldo.
E
um dos responsáveis, ao ouvir que esse jogador ou o Cristiano Ronaldo eram
figuras públicas rebateu, utilizando as seguintes expressões :
- Estás enganado … Esses
jogadores como muitos cantores ou artistas, são figuras conhecidas … umas mais
do que outras, mas apenas conhecidos dum público em geral.
Continuou
….
- Figura Pública, é alguém
como um Médico ou um Professor …
Não se pode comparar. O que é
que um cantor ou um jogador faz pelo futuro deste país. Nem se pode comparar.
Nem
faço comentários…
Não
é preciso, vir defender uma classe, que se impõe ou se devia impor, naturalmente,
pela sua responsabilidade ou capacidade …
Não
conheço, ou li, nenhum artigo, onde outra classe profissional, tenha vindo à
praça pública, defendendo que trabalham muitas horas.
Agora
que se exijam condições de trabalho … isso sim, várias classes de profissionais,
várias vezes e bem …
Mais
uma vez, e falando desta classe profissional, os Professores, no meu entender,
não era necessário, não têm necessidade deste tipo de artigos…
Como
em todas as classes profissionais, é importante, imprescindível que sejam
dignificadas, reconhecidas … e que cada um de nós, seja exigente consigo mesmo,
contribuindo na exacta medida das nossas responsabilidades para um futuro cada
vez melhor, com mais qualidade de Vida, de modo a que todos, cada um à sua
maneira, sejam considerados, nos consideremos, e vejamos em cada um dos
profissionais … UMA FIGURA PÚBLICA …
E,
quanto a mim, é em defesa disto que os PROFESSORES, devem lutar, devem exigir,
devem gritar…
Defender
a sua classe, defender a sua Dignidade enquanto classe, enquanto profissional, enquanto
“elemento” de uma classe …
Devem
todos quererem ser …. UMA FIGURA PÚBLICA …
Todos nós, devemos querer ser ...UMA FIGURA PÚBLICA... de acordo com o conceito acima enunciado ...
Nota: É apenas a minha
opinião … O que aqui
defendo, tento todos os dias colocá-lo em prática … É que eu
também sou, um profissional