Há dias assisti a uma situação que me deixará "marcado" por muito tempo.
Todos os dias, quando me desloco para o trabalho, o rádio do meu veículo sintoniza 99,1, a Rádio Mais Angola.
Nesse programa matinal, na minha modesta opinião, é efectuado um trabalho exemplar de cidadania, estando constantemente o locutor/jornalista a chamar à atenção para diversas situações que devem, em sociedade serem corrigidas, procedimentos, comportamentos que deverão ser corrigidos em prol de uma Angola no caminho do desenvolvimento sustentável. É um excelente exemplo de serviço público que está a ser prestado a este país e mais particularmente a Luanda.
Também informa o trânsito, informação constantemente actualizada. De uma forma impressionante as mensagens chegam a este comunicador, dando conta da situação do trânsito nas várias artérias da cidade. Apela-se ao civismo na condução, ao cumprimento das regras básicas de trânsito, à condução e comportamento cívico de automobilistas e peões, pede, quase que implora para que as pessoas, peões, automobilistas, ciclistas, motociclistas, cumpram, ajudem.
É bem verdade... Luanda tem algumas avenidas largas e espaçosas, 21 de Janeiro, Pedro Castro Van Dunen, Deolinda Rodrigues, a Rua da Samba, com condições de circulação que fazem inveja a muitas cidades europeias. São avenidas com 2 ou 3 faixas para cada sentido, não têm na sua grande maioria rotundas... têm retornos que permitem inverter o sentido de trânsito com uma maior fluidez. Isto é, as condições existem, mas foi o que mais confusão me meteu... o trânsito, em muitas destas avenidas, completamente caótico... Os carros conseguem-se alinhar em 5 faixas, onde só cabem 3... Basta fazer pisca, para entrar na via, sem olhar, verificar quem vem lá... não, apenas se entra... aqui circula-se metendo o carro à frente... ou páras tu ou bates tu (neste caso, eu)... Os peões atravessam as estradas, simplesmente, quase sempre sem olhar... verdade se diga, na grande maioria, as passadeiras existem por existir, porque ninguém pára...
Fiquei estaziado, parei numa passadeira, e de imediato o meu colega carregou no botão dos 4 piscas... porque se não o fizer estou a arriscar o acidente (embate traseiro)... mas eu estou paradao a dar prioridade aos peões numa passadeira... Nos mesmos locais que servem para o atravessamento dos peões, temos as motas, que aproveitam muitas das vezes circular em sentido contrário ao fluxo do trânsito, apenas e só, porque dá mais jeito. Não é fácil descrever.
As estatísticas falam, e dizem tudo ...
Só no primeiro trimestre de 2012, de acordo com as notícias, registaram-se mais de 300 mortos por atropelamento em Luanda. As autoridades enfrentam este problema como sendo a actual "guerra" em Luanda a ser vencida. Só numa das artérias, o ano passado registaram-se 260 mortes por atropelamento.
São números arrasadores...
São constantemente lançadas campanhas de sensibilização a todos de forma a efectuar um combate cerrado a esta "tragédia".
Há uns dias, que fui "confrontado" com este problema...
Assisti, "em directo" a um atropelamento... é uma imagem horripilante, o som do impacto... o resultado final, mais uma morte de um jovem. A forma como ele atravessou a estrada, não permitiu ao automobilista evitar o acidente, apenas e só, porque não viu e nem podia ver... aquele jovem simplesmente, não olhou, vinha a correr e atravessou a estrada... só, simplesmente atravessou...
Recordo-me de alguém a correr, passar á frente de um carro e não o conseguir fazer à frente do segundo...
Não me recordo da cor ou a marca do carro, não me lembro de nada... apenas recordo o som e a imgem de mais uma Vida perdida... cedo demais...
Não me autorizo a descrever com precisão o que vi, ouvi e senti... É sórdido demais para o fazer...
É uma imagem, que não vou conseguir esquecer tão cedo... se é que isso é possível.
Infelizmente, descobri em muito pouco tempo, outra dura realidade de Luanda.
Peço que se continue com todas as campanhas, todos os alertas, ao comunicador da frequência 99,1 e a outros tantos comunicadores, que não desistam, que resistam nesta "guerra" sem tréguas... Não é fácil, mas Angola, Luanda vai de certeza inverter esta situação...
... crianças, meninos, que todos os dias vejo, observo a caminho da escola, orgulhosamente evergando a bata branca, com sorrisos rasgados e brilho no olhar, apenas lhes desejo que todos os dias cheguem a casa como partiram ...
... aos condutores e automobilistas, temos todos nós de ter a consciência, que temos nas nossas mãos uma arma mortal, o nosso carro ...
(FAIRES)