…Não sei se somos o país que somos, não sei que país temos e nem sei se temos o país que merecemos.
Temos um clima abençoado, temos uma geografia que nos permite ver paisagens de rara beleza, entre mar e campo, entre planície e montanha. Temos Sol quase doze meses por ano. Temperaturas que são a inveja da maior parte dos outros povos. Praia, Serra, eu sei lá mais o quê.
É um território onde calamidades naturais não ocorrem, tais como tremores de terra, furacões, ….
De acordo com informações recebidas, seriam estas as questões colocadas a DEUS, na altura em que estaria a empreender a “construção” do Universo, e dos diversos territórios deste Planeta Azul. Alguém, na altura, estaria até revoltado com a “injustiça” de DEUS, em criar um pequeno território quase perfeito.
DEUS, reza a “lenda”, virou-se para o seu interlocutor, algo irado, e respondeu:
- Espera para veres quando EU terminar a minha obra. Espera para veres o povo que eu vou lá colocar.
E realmente, o seu interlocutor, depois de ver a obra terminada, compreendeu a resposta de DEUS…
Realmente, é a pura das verdades, somos um povo que depois de tantas batalhas vencedoras, de tantas terras descobertas, demos novos caminhos ao Mundo, estivemos nos cinco continentes, deixámos marcas, padrões, conhecimento, sabedoria…. Depois de tanto e tanta coisa bem-feita, estamos agora, há uns tempos a esta data, a “construir” uma sociedade de duvidosos valores, somos um país à deriva, ao sabor de ”ventos e tempestades”… onde os nossos jovens (não é que eu seja muito velho), para verem algum Futuro, alguma luz ao fundo do túnel, pensam em partir…
Tudo isto, porquê?
Há dias, fomos confrontados com uma dura realidade, em todos os noticiários: tinha sido descoberto o corpo de uma idosa, que morrera, sózinha, sem ninguém dar conta, sem ninguém sentir a falta, há cerca de 8 anos (já nem me lembro bem). A única pessoa que desconfiou que algo não estava bem, foi uma vizinha, que depois de várias tentativas junto das autoridades, depois de ter devolvido à Segurança Social diversos cheques da reforma porque a dita senhora não aparecia, é que alguém, depois de devidamente cumpridas todas as formalidades burocráticas, procedeu à abertura de uma simples porta e confirmou o que se desconfiava… morreu sem “dar conhecimento a ninguém”… Finalmente o mistério estava desvendado.
E se esta situação só por si é chocante, tanto em termos morais como sociais, situação que deveria ser motivo de pensar em que raio de sociedade estamos metidos, que raio de valores são estes, que raio de burocracia e procedimentos legais escrevemos me provocou "engulhos", mais, mas muito mais me chocou que desde esta malfadada notícia, parece-me que não há dia nenhum que não se descubram mais casos.
Desde aí que eu me lembre já foram mais quatro…
Mais uma vez, as pessoas em geral e as autoridades em particular, sim porque agora já se entra dentro da casa de uma pessoa com mais “facilidade”, mais uma vez, dizia eu, se está a agir no sentido de "casa arrombada, trancas à porta".
Todos os casos, com muito tempo de “desaparecimento” ….
Dá-me a triste sensação, que agora todos nós, estamos alertas e despertados, para desconfiarmos se não vemos alguém há uns dias.
Mas só agora???
Só depois de ouvirmos e nos massacrarem com este tipo de notícias é que nos alertamos???
Porque não antes? Já nem falo de familiares… Falo do homem dos jornais, deste ou daquele vizinho, falo do homem do café ou da tasca … Que raio, mete-me impressão que não haja uma alma, que faça uma simples pergunta ou diga qualquer coisa do género “… não vejo fulano nem movimento há dois dias ….”.
Mas agora, assunto de parangonas de jornais e televisões, é quase que assunto de “busca” nacional… Mas só agora, depois de ouvir e ler.
Será que os "técnicos" da Segurança Social não desconfiaram que haveria um motivo estranho e fora do normal para que aquela parca pensão fosse devolvida meses e meses, sem ninguém reclamar? Ou será que era motivo de “regozijo” , o facto de serem mais uns tostões não pagos e consequentemente “poupados”. Estes técnicos, que se dizem funcionários, colaboradores e responsáveis, não acharam estranho nada?
Quais são os valores que temos, que estamos a construir e que vamos de alguma forma legar?
Será que estou, pertenço, pago para viver num país, cujos serviços são de tal maneira informatizados e “simplexados”, onde tudo, mas tudo, tudo mesmo se sobrepõe ao valor da VIDA? Até a burocracia dos serviços e das autoridades é mais importante que o valor da VIDA, ou neste caso do respeito pela condição humana?
Agora, mais uma vez, se vai tentar apurar responsáveis e responsabilidades. Certamente haverá em um qualquer gabinete, uma série de técnicos, que não têm nada para fazer, e por isso, talvez se crie mais uma “comissão de inquérito”. Certamente se encontrarão culpados, responsáveis por tal inércia. Só falta responsabilizar também aquela senhora, idosa, que era vizinha e se preocupou em tentar saber o que se passava com a sua amiga do lado.
Por isso, pergunto-me cada vez mais: Será este o país que eu quero deixar aos meus filhos? Será este o legado que eu lhes vou deixar, porque não tive a coragem, a competência, porque fui completamente “inerte” e passivo, porque não tive a sapiência de fazer algo para mudar? E como tantos outros, limitei-me a criticar, nem sempre em Sede própria ou da forma mais correcta, de maneira a conseguir melhorias?
Senti um frustração imensa, uma ignorância total… Não consigo “encaixar” como não há uma alma que dê conta? … Não consigo perceber que, mesmo havendo uma alma que dê um alerta, tal alerta, se embrulhe nas entranhas de um processo burocrático…
Depois, outra que me irrita é que depois, aparece sempre um “Xico-esperto” que diz em forma de remate:
- Eu tinha avisado… mas ninguém me ouviu !!!
Porra, (desculpem), não basta AVISAR, É PRECISO GRITAR… É PRECISO BERRAR…
Toda a gente incluindo as autoridades tiveram medo de ser presos por arrombar uma simples porta… mas agora já entram, já abrem e já arrombam…
O que é que mudou ?
Foi a lei ?
Foram os procedimentos legais?
Foram as autoridades ?
Agora já não prendem ?
Será algum complexo, ou mesmo reconhecimento de culpa ?
Não, nada mudou, mais uma vez arranjamos uma forma de nos ENVERGONHARMOS E DE FALTARMOS AO RESPEITO À CONDIÇÃO HUMANA…
O que mudou...mais uma vez o sentimento de culpa (?), o facto de este país ser notícia pelos piores motivos, mudou temporariamente uma forma de actuação e de incómodo... mas repito, só por algum tempo... até à proxima. Em nenhuma destas situações uma forma correcta de actuação alterava alguma coisa... talvez não, dou o desconto da dúvida.
Evidentemente que o alerta dado a tempo e horas, não alterava nada no desfecho final…talvez... Infelizmente alguém tinha partido deste Mundo, sem anúncio ou aviso prévio e sózinho…
Mas o que se alterava, disso estou certo, tudo era diferente, era que nós, “viventes temporários” deste Mundo, deste país, tinhamos respeitado:
A CONDIÇÃO HUMANA MESMO DEPOIS DA MORTE…
E eu também faltei ao respeito, pelo menos moralmente…
(Imagem tirada da internet)